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Arapoti: Cemitério dos Escravos uma história que está se perdendo pela ação do tempo








 


 

 

Netos e bisnetos de escravos contaram no local a história, as lendas e os mitos do cemitério dos escravos situado na Fazenda Boa Vista no município de Arapoti.

Agência Criativa

Por David Batista

A fazenda Boa Vista localizadas as margens da PR 132 na altura do km 30 no município de Arapoti, guarda um verdadeiro tesouro da época da escravidão, que aos poucos está sendo corroído pelo tempo. O local a pelo menos 150 anos foi sede de uma das mais famosas e maiores fazenda de escravos de toda a região. Hoje no local é possível vislumbrar um casarão em ruinas de aproximadamente 800 metros quadrados, que era a moradia dos proprietários “os sinhozinhos”, segundo levantamentos o casarão, que incluía senzala, salas e pátio, coxos para servir comida e o tronco onde os escravos eram torturados.

Nas proximidades do casarão em meio às plantações a sombra de uma Figueira, está localizado um cemitério, conhecido como “cemitério dos escravos” onde eram sepultados os escravos bem como os descendentes das famílias dos nobres da época.

A nossa reportagem não localizou nenhum registro oficial da época que pudesse identificar os últimos proprietários da fazenda antes da abolição dos escravos, mas encontramos ainda morando em uma pequena casa em terras da fazenda Boa Vista, (há 10 anos) Amazonas Xavier da Silva (inmemorian) e sua esposa Maria José Teixeira, na época, ambos com 77 anos, hoje 89, que são netos dos escravos que povoaram e viveram na fazenda. Seu Amazonas, como é conhecido é filho de Pedro Lázaro e Florisbela, que por sua vez são de filhos de Antônio e Benedita, que foram escravos e ajudaram na construção de toda a sede da fazenda, incluindo o transporte das pedras para a construção do cemitério. Amazonas e Maria estiveram com nossa reportagem visitando o casarão, bem como o cemitério dos escravos, onde segundo eles, á muitos anos não retornavam.

O casarão que foi tombado pelo patrimônio histórico do Paraná, tem paredes de aproximadamente um metro de largura, e foram feitas toda em barro com taquara trançada e amarradas com cipó Guambê, parte dos cômodos contem assoalho de Peroba original da época e outra parte foi coberta por cimento já pelos novos proprietários. Segundo Amazonas, até bem pouco tempo era possível ver os troncos onde os escravos eram amarrados e quando não obedeciam às ordens dos capatazes, ou tentavam uma fuga “eles eram amarrados no tronco com os braços para cima, e as correntes fechada nos pés (tornozelos), as argolas eram para amarrar as mãos, próximo ao tronco existia ainda o coxo de madeira de aproximadamente 4 metros onde era servida a comida para os escravos. O sinal para que todos se reunissem para as refeições era anunciada por um sino que, quando tocava ecoava por toda a fazenda e os escravos largavam os serviços e vinham correndo, os mais novos chegavam primeiro e quando os mais velhos chegavam já cansados, às vezes já na tinha mais comida. Não tinha prato e muito menos uma vasilha para servir as refeições, todos comiam no coxo de madeira com as mãos”, afirma Amazonas.

Todos os parentes mais antigos como os pais e avós de Amazonas e Maria, estão sepultados no cemitério dos escravos. Seu Amazonas, conta que os escravos eram enterrados em covas rasas em uma parte do cemitério e os nobres eram sepultados em “carneiras” em outra parte bem separados.

Para quem visita o local, o primeiro impacto é assustador, no cemitério túmulos quebrados e cruzes, algumas em pé e outras jogadas pelo chão, sepulturas violadas  por aventureiros que abriram a procura de supostas relíquias que poderiam ter sido sepultadas junto com os donos. O cemitério é todo cercado por enormes pedras, que segundo dona Maria, foram trazidas pelos escravos das proximidades do Rio Do Mona, distante quase cinco quilômetros,  rio que ainda corre dentro da propriedade. Hoje o local, em função da enorme quantidade pedras empilhadas, serve de abrigo e moradia das cascavéis, que foram avistadas em abundancia pela nossa reportagem. Para tornar o lugar ainda mais tenebroso, existe uma Figueira centenária, cujas raízes estão espalhadas por cima das sepulturas e ainda pedaços e troncos que parecem estar petrificados.

Após abolição dos escravos os pais de Amazonas e Maria, continuaram morando na fazenda e trabalhando como arrendatários em plantações de milho e feijão. Segundo dona Maria, sua avó Cipriana, trabalhava na cozinha da fazenda e seu avô trabalha na roça, “Os filhos descendentes dos escravos todos se criaram na fazenda, alguns saíram para trabalhar fora como foi o caso do meu marido Amazonas, que só teve um registro na sua Carteira de Trabalho, foram 35 anos trabalhando no DER”, afirma Maria.

Seu Amazonas, com muitas dificuldades para anda, na época, fez questão de acompanhar todos os passos da nossa reportagem, sempre acompanhado pela esposa Maria e seu filho Zézão, “acho muito importante se fazer uma reportagem dessas porque daqui a alguns anos nada disso mais vai existir e muito menos alguém vai estar vivo para contar essa história que aconteceu dentro do município de Arapoti e que pouca gente tem conhecimento”, disse Zézão.

Como não podia faltar depois da entrevista, surgiram várias estórias de assombrações e “avisagens”. Amazonas conta que em uma das suas andanças a cavalo pela fazenda, chegou de madrugada e foi dormir e em uma das portas da entrada do casarão e já enrolando na sua capa percebeu que ela estava levantando e que uma assombração queria dormir junto com ele debaixo da capa. Dona Maria interrompe a conversa e conta que Amazonas, durante suas andanças pelas madrugadas viu por várias vezes o saci Pererê pulando com uma perna só. Dona Maria afirma que o saci amarrava a crina dos cavalos para que pudesse montar, depois disso fazia trança no rabo, “ninguém conseguia desmanchar os nós e depois tinham que cortar a crina os cavalos” afirma Maria, que disse ainda que acredita em assombrações, mas que hoje em dia nem as assombrações pode mais com vida do povo. 

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