Agência Criativa
David Batista
O Jornal Cultural A Gralha, criado
pelo Departamento de Cultura, do município de Siqueira Campos, dirigido pelo
diretor Flavio Melo, em todas as edições traz em suas páginas reportagens e
histórias, que vem cativando cada vez mais seus leitores. Em uma de suas
edições A GRALHA, conta a saga de uma das Lendas do município, Jovino Leal,
que no dia 5 de maio deste ano, vai completar 103 anos - Jovino é um dos
ilustres filhos siqueirenses e, foi um dos pracinhas brasileiros combatentes na 2ª Guerra Mundial.
No século passado, no ano de 1922, em
5 de maio, na Colônia Mineira no Município de Siqueira Campos, Estado do
Paraná, nasceu Jovino Francisco Leal, filho de Iria Maria de Jesus Leal e José
Francisco Leal. O nome escolhido para o menino, o 5º filho do casal, já era um
prenúncio de sua 'jovialidade', mantida até mesmo os dias atuais 101.
O garoto levado, adepto a brincar no
mato, tomar banho de rio, comer frutas 'direto do pé' e fazer peraltices,
cresceu na zona rural da então Colônia Mineira, local onde permaneceu até
quando alcançou a idade para ser alfabetizado. Assim, Jovino, precisou dar
'adeus' ao tempo de criança e partir para a etapa que lhe abriria caminhos e
garantiria, no futuro, o seu sustento.
A vida exigiu dele mais disciplina e,
como aluno dedicado e 'sabido que só', não teve dificuldades em concluir o
ensino primário.
Ao conhecer o universo das letras,
abriu-se um mundo de possibilidades àquele garoto que, desde pequeno, sempre
foi um leitor curioso e interessado em assuntos diversos.
Ao completar os seus 18 anos,
alistou-se e, não tardou, foi convocado para servir o Exército Brasileiro e, na
sequência, convocado para combater na Segunda Guerra Mundial.
Pelo seu país, em companhia de outros
bravos compatriotas e amigos, atravessou o Oceano Atlântico, sem saber o que o
esperava naquela longínqua Terra. Na incerteza se voltaria a ver os seus
familiares, o jovem pisou em solo italiano e combateu 'como bom soldado'.
Em confrontos que o marcaram,
inclusive, com pesadelos que o acompanharam em uma vida toda, sofreu perdas,
presenciou amigos partirem e experimentou todas as dificuldades que uma Guerra
impõe. A tudo isso sobreviveu e seguiu a sua vida ciente de que a paz é sempre
o melhor caminho.
O assunto que envolve a sua
participação no conflito nunca foi frequente em seu núcleo familiar, porém, ao
vasculhar algumas memórias, ele trouxe alguns fragmentos e relatos desse tempo,
cujas transcrições se encontram na sequência deste texto.
Prosseguindo em sua trajetória, ao
retornar ao seu amado Brasil, o jovem combatente contraiu matrimônio com a sua
bela prima Sebastiana Rodrigues e logo vieram os filhos: Anísia Leal; Lucrécia
Lucília Leal, Lucélia Maria Leal, Eli Justo Leal, Ervina Maria Leal e Aristeu
Luiz Leal.
Durante a vida, exerceu diversas
atividades, dentre as quais a de administrador de fazenda; comerciante, tendo
sido, até mesmo, eleito Vereador do Município onde nasceu, no período de 1951 a
1955
Nesta época, a sorte também lhe
acompanhava, visto que foi contemplado, em certa ocasião, pelo prêmio da
Loteria Federal, auferindo uma polpuda quantia, que lhe permitiu realizar
alguns sonhos, como a aquisição da casa própria e, até, de um automóvel.
Como bom estudioso que sempre foi e
dono de uma memória rara, “Jovino Coruja” (como é conhecido), acabou colhendo
os bons frutos de seus aprendizados, tendo sido aprovado no concurso para
inspetor de um tradicional e renomado Colégio na capital paulista, para onde se
mudou, inicialmente sem a família, no ano de 1971.
Ao se deparar com uma metrópole, teve
que se adaptar e passou a estudar os mapas da cidade e percorrer trajetos de
ônibus (e a pé) para melhor se localizar, conhecendo aos poucos a sua nova
morada.
Após dois anos residindo em São
Paulo, com uma mudança bastante reduzida e com espaço apenas para itens de
extrema necessidade, trouxe a sua família (esposa e 4 filhos) para a Capital do
Estado de São Paulo, lugar onde se instalaram e residem até os dias de hoje.
O seu caminhar exigiu muitas lutas,
dentre as quais, já com 100 anos, a de se recuperar da Covid-19, bem
como, a de colocar um marca-passo cardíaco, logo após ter completado 101 anos
de idade. Apesar dos percalços, com a graça de Deus, segue saudável e bem-humorado
e, quando lhe perguntam: “será que eu vou chegar na sua idade?”, ele sempre
responde (em tom 'maroto'): “se você não morrer, chegará sim !”.
Sempre com sorriso no rosto, mente
criativa, lucidez ímpar e prodigiosa memória, a cada dia esse centenário ex-combatente,
orgulho de Siqueira Campos, nos ensina um pouco mais sobre a vida, enchendo de
orgulho, não só a sua família, mas todos aqueles que têm o privilégio de
conhecê-lo.
A partida do Rio de janeiro, para a
fronte da guerra narrada pelo ex-combatente
“Em 31 de março de 1944, chegamos à
Vila Militar do Rio de Janeiro e, após 3 meses de treinamentos intensos e
instruções militares, estávamos preparados para o embarque, que ocorreu em 29
de junho de 1944, no Navio Americano USS General W.A. Mann.
Fomos as primeiras pracinhas do 6º
Regimento de Infantaria de Caçapava – SP a saírem do Brasil com destino à
Itália.
A viagem durou cerca de 13 dias em
mar aberto e tivemos que enfrentar o constante perigo de ataques submarinos
alemães.
Em princípio, pensávamos que o
desembarque se daria em continente Africano, porém, quando adentramos à baía de
Nápoles e avistamos o Monte Vesúvio, com o seu respectivo vulcão e toda a sua
magnitude, nos demos conta que tínhamos chegado à Itália.
Ao margearmos a costa, percebemos nítidos
sinais de que o local havia sido palco de inúmeros conflitos/lutas, pois ali
existiam inúmeros navios queimados e naufragados.
O desembarque, no Porto de Nápoles,
se deu em segurança e com a total vigilância das forças aliadas.
Na sequência, seguimos para o
alojamento dos militares americanos, em Bagnoli, onde recebemos moderno
armamento, bem como roupas e fardamento para o inverno.
Na data de 11 de agosto de 1944, na
cidade de Tarquinia, fomos incorporados ao 5º Exército Americano e, sete dias
depois, fomos encaminhados ao acampamento / alojamento de Vada, onde recebemos,
por alguns meses, diversos treinamentos e instruções de combate).
Somente após concluídas essas
atividades, é que fomos considerados preparados e aptos para atuarmos na frente
de combate.
O 6º Regimento de Infantaria foi
deslocado para o vale e arredores de Monte Castelo), local onde ocorreu o nosso
batismo com o 'fogo'.
A luta em Monte Castelo durou vários
meses e foi permeada de intensos combates e com muitas vidas humanas
sacrificadas, tendo havido inúmeras perdas de combatentes. Após muita
resistência, por fim, conquistamos o cume do Monte Castelo.
Em seguida, partimos para a conquista
dos arredores e da cidade de Montese, na região havia uma grande concentração
de militares alemães, mas bravamente, após vários dias de combates,
conquistamos também a cidade e arredores de Montese, numa luta urbana pelas
ruas locais e de ‘casa em casa', onde muitas vidas de companheiros de farda,
infelizmente, foram perdidas.
Desse momento em diante, houve uma
calmaria nos conflitos, o que permitiu, a alguns combatentes, um breve e
necessário descanso.
Após as inúmeras conquistas das forças
aliadas na região, os alemães se deslocaram para a cidade de Fornovo, onde se
agruparam junto ao 148º Unidades de Infantaria, formando um contingente de
agrupamento, na região, de mais ou menos uns 15 mil militares, em completa
fuga.
As forças militares americanas e a
FEB, (Força Expedicionária Brasileira), conseguiram fazer um cerco a essas unidades que, em 29/04/1945, entraram em
colapso total e no dia 30/04/1945, acabaram se rendendo aos militares aliados,
em especial, à FEB, entregando todos os seus equipamentos bélicos e encerrando,
nesta data, as hostilidades da guerra.
No dia 06 de julho de1945, os
primeiros 5 mil militares da FEB começaram a retornar ao Brasil, chegando ao
Rio de Janeiro, em 20 de julho 1945 onde foram recebidos com muitas honrarias,
festas, e desfiles militares.
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