Regina Maria de Souza, Psicóloga
Clínica Especialista em Psicologia, Comportamental-Cognitiva, Mestranda em
Psicologia Forense – UTP atua como Psicóloga em consultório particular e na
Secretaria de Educação do Município de Siqueira Campos, como avaliadora de
transtornos e comportamentos infantis, destaca os mitos e as verdades, sobre o
comportamento de pessoas, (pacientes), que podem ser levados a cometer suicídio.
Segundo Regina, todos os anos são registrados cerca de 10
mil suicídios no Brasil e mais de 1 milhão em todo o mundo. Para transformar
este cenário, precisamos de uma sociedade engajada na defesa pela vida e
profissionais da saúde comprometidos conjuntamente com as políticas
públicas. Dessa forma, é Importante que
todos os profissionais em todos os níveis de atenção estejam preparados para
reconhecer os fatores de risco e trabalhar na prevenção do suicídio.
Muitos fatores podem impedir a detecção precoce um
comportamento suicida e consequentemente a prevenção. Comumente os principais
são o estigma e o tabu relacionado a esse assunto do qual as pessoas
normalmente não querem estar falando e nem entrar em contato.
Além disso, o comportamento suicida é determinado de
múltiplas formas e o resultado disso é uma complexa interação de fatores
psicológicos, biológicos e genéticos além dos culturais e sócios ambientais.
Portanto não é tão fácil dizer quem pode e quem não pode ter
um comportamento suicida, devemos estar atentos aos sinais e principalmente na
interação da pessoa com os demais dentro da própria casa.
A grande maioria das pessoas tem medo e vergonha de falar
abertamente sobre esse assunto, pois esse tabu arraigado em nossa cultura
impede de falar sobre a vontade de morrer com os profissionais da saúde e com
as pessoas próximas, afastando a possibilidade de ser acolhido e de receber
ajuda através de medidas preventivas.
Importante entendermos quais são os mitos e quais são as verdades
sobre o suicídio:
Mito de que o suicídio é uma decisão individual, já que cada
um tem pleno direito a exercer o livre arbítrio. Isso não é verdade, os
suicidas podem estar passando por uma doença mental que altera a sua percepção
da realidade e interfere em seu livre arbítrio, afinal, o tratamento da doença
mental é o pilar mais importante da prevenção do suicídio, pois após o
tratamento e psicoterapia por profissional psicólogo, a pessoa restabelece as
áreas da sua vida que são mais importantes e os pensamentos e comportamentos
suicidas desaparecem.
Outro mito que é comum ouvirmos é quando uma pessoa pensa em
suicidar terá risco de suicídio pelo resto da vida. Isso não é verdade porque o
risco de suicídio pode ser eficazmente tratado e depois a pessoa não estará
mais em risco.
Outro mito é que as pessoas que me falam em se matar não
farão isso, elas querem apenas chamar atenção. Isso é falso por que a maioria
dos suicidas fala ou dá sinais sobre as suas ideias de morte. Boa parte dos
suicidas expressou em dias ou semanas anteriores aos profissionais de saúde seu
desejo de se matar.
Outro mito é que uma pessoa que se sentia deprimida e
pensava em suicidar-se, em um momento seguinte passa sentir melhor significa
que o problema já passou. Isso não é verdade porque se alguém pensar em
suicidar-se, de repente parece tranquilo ou aliviado, não significa que o
problema já passou. Uma pessoa que decidiu suicidar-se pode sentir-se melhor ou
aliviado simplesmente por ter tomado a decisão de acabar com a própria vida.
Outro mito é quando uma pessoa mostra sinais de melhora ou
sobrevive à tentativa de suicídio, dando a entender que tá fora de perigo. Não
é verdade porque um dos períodos mais perigosos é quando se está melhorando da
crise que motivou a tentativa ou quando a pessoa ainda está no hospital na
sequência de uma tentativa. A semana que se recebe alta do hospital é um
período o qual a pessoa está particularmente fragilizada, dessa forma ela ainda
está passando um período de alto risco.
Outro mito que escutamos muito é que não devemos falar sobre
o suicídio por que isso pode aumentar o risco. Isso não é verdade, falar do
suicídio não aumenta o risco, muito pelo contrário, falar com alguém sobre o
assunto pode aliviar a angústia e a tensão que esses pensamentos trazem.
Temos que Lembrar que os dois principais fatores de risco
são a tentativa prévia e doença mental: Pacientes que tentaram suicídio
previamente tem de 5 a 6 vezes mais chance de tentar suicídio novamente;
estima-se que 50 por cento daqueles que se suicidaram já havia tentado
previamente.
Outro risco são as doenças mentais: sabemos que quase todos
os suicidas tinham uma doença mental no diagnóstico ou não foram
diagnosticados, não tratados e/ou não tratados de maneira adequada. Sabemos que
os transtornos psiquiátricos mais comuns são: a depressão, o transtorno bipolar,
alcoolismo e abuso de substâncias químicas ou de outras drogas, além de
transtornos de personalidade e esquizofrenia.
Pacientes com múltiplas comorbidades psiquiátricas tem um
risco aumentado, ou seja, quanto mais diagnósticos, maiores os riscos.
Outros fatores importantes é a desesperança o desespero, o
desamparo e a impulsividade. Os sentimentos de desesperança e desamparo são
fortemente associados ao suicídio, e é preciso estar atento, pois a desesperança
pode persistir mesmo com a remissão de outros sintomas depressivos.
A impulsividade principalmente entre os Jovens e
adolescentes é outro fator de risco importante, que quando combinada a
desesperança e o abuso de substâncias, é de extrema periculosidade para a vida.
Os comportamentos suicidas entre jovens e adolescentes
envolvem motivações diversas: podem ser humor depressivo, uso de substâncias
químicas, problemas emocionais, familiares e sociais. História familiar de
transtorno psiquiátrico, rejeição familiar, negligência além do abuso físico e
sexual na infância.
Mas também não é só entre os jovens, os idosos sofrem devido
a outros fatores como a perda de parentes, sobretudo do cônjuge, solidão,
algumas enfermidades degenerativas e dolorosas e também a sensação de que está
dando muito trabalho à família. Não
podemos esquecer-nos da população negra, indígena e LBGTI+ que podem apresentar
sentimentos de não pertencimento e principalmente aos fatores de discriminação.
Há três importantes fatores psicológicos
a serem avaliados:
1º uma dor psicológica é intolerável: resultado de
frustrações das necessidades psicológicas mais básicas;
2º Um grau de perturbação: refere-se a qualquer distúrbio
pré-estabelecido que reduza capacidade de enfrentamento dos indivíduos tais
como transtornos de humor e aqueles caracterizados pela impulsividade, além
destes, cognitivos já constituídos;
3º um estado de pressão: relacionada com estressores e
eventos adversos de vida, capazes de criar crises suicidas agudas como um
diagnóstico de doença terminal, o fim de uma relação amorosa, ou a morte de
alguém querido.
Dentre todos esses fatores o mais importante é a vivência de
um sofrimento tido como intolerável, que parecem interminável e intolerável
tornando-as desesperadas incapazes de encontrar qualquer solução.
Através da psicoterapia por profissional psicólogo, o
paciente reconhece como buscar meios para que consiga lidar com a vida,
tornando-se mais tolerável, ampliar a capacidade de lidar com a frustração e
diminuir a pressão causada pelos eventos estressores da vida.
Sabe-se que o propósito do suicídio é de cessar o fluxo da
dor psicológica tida como intolerável. Por meio da cessação da consciência
durante a crise suicida, os indivíduos vivem um estado emocional fortemente
marcado pela desesperança e pela ambivalência, não acreditando que podem sair e
resolver.
Neste momento, o acolhimento, o vínculo, a
corresponsabilidade são apontadas como principais elementos da sobrevivência da
pessoa, dando suporte no momento crítico.
Os fatores protetores geralmente são: autoestima, bom
suporte familiar, laços sociais bem estabelecidos, a família, os amigos,
religiosidade independente da afiliação religiosa e razão para viver.
É necessário, a construção de espaços de acolhimento para as
pessoas em sofrimento psicológico, pra que se sintam acolhidas, aceitas e
pertencentes a um grupo. O papel da família é fundamental para identificar e
proteger seus membros.
A participação e o desenvolvimento de grupos de apoio é uma
ferramenta que visa à proteção e apoio mútuo entre pares, formando vínculos e
protegendo uns aos outros. Dessa forma a sociedade também é responsável
juntamente com os profissionais de saúde em entenderem a demanda da prevenção
do suicídio, principalmente da família e amigos buscando identificar
comportamentos e sinais de um sofrimento mais importante sem discriminação e
sem preconceito.
Fonte: Conselho
Federal de Medicina (2014) e Conselho Regional de Psicologia DF (2020).
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