Grande, crocante, saborosa,
resistente e produzida numa região com bom potencial turístico: a goiaba
paranaense de Carlópolis conquistou, em 2016, o selo de Indicação Geográfica
(IG), concedido a produtos reconhecidos por tradição e qualidade, o que os torna
únicos no mundo.
Neste segundo de doze episódios da
série especial “Riquezas da nossa terra”, uma parceria com o Serviço Brasileiro
de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) sobre produtos com IG, o Caminhos da Reportagem vai mostrar quais são os
diferenciais da goiaba, as histórias dos produtores e as belezas, aventuras e
delícias gastronômicas da região produtora da fruta.
A Indicação Geográfica de Carlópolis
atesta a goiaba de dois municípios do Paraná: Carlópolis e Ribeirão Claro.
Hoje, 36 fruticultores são associados à Cooperativa Agroindustrial e 10 deles
já têm o selo da IG.
A visibilidade alcançada com a
Indicação Geográfica e com a certificação Global G.A.P (Good Agriculture
Practices) alavancou as exportações da goiaba de Carlópolis, que cresceram
1.142% em dois anos. Um salto de 5,2 toneladas de janeiro a junho de 2020
para 65,2 toneladas no mesmo período deste ano. Inglaterra, Portugal, Canadá e
Oriente Médio são os principais destinos da fruta.
A gerente de vendas da Cooperativa
Agroindustrial de Carlópolis e também produtora de goiaba certificada, Inês
Sasaki, tem participado de feiras internacionais. “Eu fui para Espanha. E a
gente levou a nossa goiaba. Ficava todo mundo admirado com a qualidade que a
gente tem”, se orgulha.
Ela explica que o mercado externo
estipula um preço fixo para a fruta maior que o mercado interno que, além
de tudo, apresenta oscilação ao longo dos meses. “Em janeiro e fevereiro o
preço dentro do Brasil ficou em torno de R$ 2. A partir de maio melhorou o
preço e oscilou entre R$ 2 e R$ 3, até que em agosto atingiu R$
4,50, enquanto, no exterior, foi vendida por R$ 4, de janeiro a
agosto, sem qualquer variação.”
Inês explica que a redução do
agrotóxico foi essencial. “Todo ano, a gente faz um teste de laboratório
com as frutas, para ver se não está constando resíduo e também na água para ver
se não está contaminada”.
O resultado positivo foi possível com
a técnica do ensacamento, para evitar a mosca da goiaba. “A partir do momento
que a gente ensaca, a gente não passa mais nada, ela fica em torno de 60 dias
ensacada sem agrotóxicos. Então, a gente faz todo esse trabalho, é manual, é
difícil, mas é uma segurança tanto para o produtor como também para o
consumidor”, avalia Inês.
O produtor Rodrigo Viana diz que a
goiaba de Carlópolis é mais resistente – TV Brasil
Além disso, outros fatores que
diferenciam a goiaba de Carlópolis são a espessura da casca e o tamanho da
fruta.
“Ela tem uma casca mais grossa que
permite um transporte maior, permite a comercialização, o espaço dela na
gôndola do mercado, ela resiste mais”, explica o produtor certificado
Rodrigo Viana. Ele diz que a variedade de goiaba cultivada nessa IG pode pesar
em média 500 gramas ou mais e que, devido ao tamanho, é considerada uma goiaba
‘de mesa’.
O Sebrae nacional e o Sebrae em cada
estado têm ajudado a mapear e a implementar as IGs pelo Brasil.
Atualmente, são 92 reconhecidas pelo Instituto Nacional da Propriedade
Industrial (INPI).
Dessas 92, a analista de inovação do
Sebrae Nacional, Hulda Giesbrecht, explica que 69 são da modalidade
indicação de procedência, que tem o registro baseado na reputação da região em
produzir determinado produto, e 23 são da modalidade denominação de origem, em
que se há uma comprovação por estudo técnico científico das características e
qualidades do produto com os fatores naturais e humanos da região. No caso da
IG Carlópolis, a goiaba é uma Indicação de Procedência.
A região denominada norte pioneiro do
Paraná, que inclui Carlópolis e Ribeirão Claro, tem a IG da goiaba e também a
IG do café, além de uma represa. Em dezembro de 2019, foi instituída por lei
como Área Especial de Interesse Turístico e chamada oficialmente de ‘Angra
Doce’, em comparação à beleza da marítima Angra dos Reis (RJ). Angra Doce, por
sua vez, compreende o reservatório da Usina Hidrelétrica de Chavantes e seu
entorno, nos estados do Paraná e de São Paulo.
Um dos locais que oferecem atividades
de lazer, aventura e contemplação é a Estância Pedra do Índio, em Ribeirão
Claro. A Estância tem voo de parapente, passeio de escuna e a maior tirolesa do
Paraná, com um quilômetro de extensão e 128 metros de altura.
O consultor do Sebrae Paraná Odemir
Capello destaca a relação das Indicações Geográficas com o turismo: “A rota das
IGs, nós já estamos pensando nisso, como uma forma também de agregar valor às
pequenas propriedades. Na Itália, na região da Emilia Romagna, que tem
aproximadamente 400 indicações geográficas, é possível ver os produtos sendo
consumidos”.
E já existem empreendedores em
Carlópolis que aproveitam o potencial turístico-gastronômico da goiaba, do café
e da represa.
Bernadete Garcia Ribeiro Dyniewicz é
proprietária do Parque Vila do Café, um sítio à beira da represa que pertence à
família desde a década de 1950 e que hoje é aberto a visitantes, com
agendamento.
Quitutes de goiaba e de café deixaram
a visita do Caminhos da Reportagem ao
local ainda mais deliciosa. O paisagismo também é destaque no Parque Vila do
Café, onde foram plantadas 3 mil mudas de 20 espécies nativas, além de um
jardim com 2 mil pés de rosa.
“Com certeza o café e a goiaba estão
sendo uma mola propulsora do turismo na região. E a gente vê que a situação
social da população está melhorando bastante, isso é muito gratificante”,
observa Bernadete.
Graduado em Tecnologia da Informação
em Curitiba, Rodrigo Amaral largou o trabalho em uma empresa de TI na capital
paranaense e voltou a Carlópolis, cidade natal, para ajudar o pai, proprietário
do Caldo de Cana Amaral.
Ele acreditou no potencial dos
produtos com Indicação Geográfica e criou o pastel Romeu e Julieta, recheado de
goiabada e queijo, mas com a inusitada massa de café.
“Junto com o fornecedor de massa, nós
fomos chegar nesse ponto, deu um pouco de trabalho, às vezes ficava muito
forte, às vezes muito fraco, até equilibrar mesmo o gosto do café”, relembra
Rodrigo. Ele já chegou a vender mais de dois mil pastéis em um final de semana.
Antes da inovação, vendia em torno de 150 no máximo.
O casal Agostinho João Longo e Rosana
Menegon decidiu, há dois anos, dar um destino às frutas maduras desperdiçadas
em Carlópolis. Eles criaram uma cachaça de goiaba e aproveitam a qualidade dos
recursos hídricos da região para garantir o bom destilamento. “Tudo rústico, na
beira da mata”, complementa Agostinho, sobre a Cachaçaria G&R.
Edição: Lílian Beraldo
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